( Postagem original 8 de julho de 2015 )
Essa é só uma pequena crônica de como as coisas deveriam ser, nós gostaríamos que você encarassem esse pedido de desculpas como se fosse de todas as pessoas que já te ofendeu, imaginem que quem escreveu essa carta foi uma dessas pessoas.
Você precisa desculpar todas elas, não porque essas pessoas mereçam ser desculpadas, mas porque você merece, esse pedido de desculpas.
Essa é só uma pequena crônica de como as coisas deveriam ser, nós gostaríamos que você encarassem esse pedido de desculpas como se fosse de todas as pessoas que já te ofendeu, imaginem que quem escreveu essa carta foi uma dessas pessoas.
Você precisa desculpar todas elas, não porque essas pessoas mereçam ser desculpadas, mas porque você merece, esse pedido de desculpas.
Não havia ninguém para dizer que eu estava errado, todos ao meu redor agiam da mesma forma e, quem não agia assim, me apoiava a continuar, o poio vinha com olhares, com sorrisos, até mesmo com o silêncio ou com palavras de incentivo, era tão comum e simples fazer isso com você, que eu não me dava conta de como estava sendo.
Havia um grande silencio em relação a ser errado te tratar dessa forma, desde criança os adultos a minha volta riam e criticavam gordos, os gordos que passassem perto de nós, ou algum parente gordo, eu ouvia as risadas achava que era uma forma de fazer piada, achava que nenhum gordo se importava, da mesma forma que eu sempre vi a maneira como falavam dos negros e dos gays, falavam dos cabelos, falavam da cor de suas peles, falavam de seus comportamentos "bizarros" e nenhum dos adultos presentes dizia que isso era errado - mesmo os que eram gordos, negros ou gays - então eu achava que se eu fizesse a mesma coisa seria um adulto adequado, assim como todos aqueles exemplos a minha volta.
Outra coisa comum era a maneira como meus pais se tratavam, minha mãe aceitava tudo que meu pai dizia, cresci achando que mulheres gostavam de ouvir ordens, criticas contínuas a sua aparência e a cobrança de sempre parecer impecável diante dos outros.
Outra coisa comum era a maneira como meus pais se tratavam, minha mãe aceitava tudo que meu pai dizia, cresci achando que mulheres gostavam de ouvir ordens, criticas contínuas a sua aparência e a cobrança de sempre parecer impecável diante dos outros.
Eu ouvia quando minha mãe, minha tia e avó e, as vezes algumas vizinhas conversavam, dizendo que homens são de um jeito diferente das mulheres, eles traem, eles preferem as magras, preferem as loiras, preferem as peitudas e nunca ligam para as mulheres fáceis, aquelas que se atiravam para cima deles nunca iriam se casar.
Minha mãe, avó, tia, as vizinhas, elas viviam em dietas da sopa, da lua, do arroz.
Elas choravam pelos cantos falando sobre como perderiam os maridos se ficassem gordas, elas perderiam a beleza e então seriam trocadas por alguém mais magra e mais bonita, sem dobras na barriga, de cintura fina e com rosto simétrico.
Minha mãe, avó, tia, as vizinhas, elas viviam em dietas da sopa, da lua, do arroz.
Elas choravam pelos cantos falando sobre como perderiam os maridos se ficassem gordas, elas perderiam a beleza e então seriam trocadas por alguém mais magra e mais bonita, sem dobras na barriga, de cintura fina e com rosto simétrico.
Foi muito simples crescer achando que gordas não teriam nenhum valor, que as negras não são tão bonitas quanto as brancas, e gays nem podiam existir. Mais fácil ainda foi crescer achando que mulher não era digna de respeito e mesmo eu sendo mulher, deveria seguir as regras de não me respeitar e nem respeitar outras mulheres.
Eu não teria como achar que era errado criticar e apontar você, ou te dar apelidos, sem alguém para me corrigir, esperar você passar ou estar por perto para falar alguma coisa que te fizesse sentir incomodada não parecia errado, não sem alguém para me mandar parar e me criticar, ora se aprendi que isso me fazia popular e importante no meu ciclo de amizades, todos gostavam mais de mim quando eu fazia essas coisas, porque então eu deveria parar? Por que então eu não deveria continuar fazendo? E eu continuei.
Muitas vezes eu quis te magoar apenas para me sobressair, muitas vezes eu quis te humilhar apenas para me sentir bem comigo mesmo, seu sofrimento, seu olhar de decepção não me dizia nada, afinal de contas você era apenas uma gorda, e sendo assim, ninguém se importava ou se incomodava, eu não teria porque me incomodar, gordos não têm sentimentos, aprendi isso durante toda uma vida, sempre ouvi dizer em casa, na escola, no trabalho, nas revistas e na Tv que gordos eram gordos por desleixo, por preguiça, por serem nojentos e porque comiam demais, eram gulosos, mortos de fome, era isso que eu acreditava, tenho vergonha de dizer, mas era isso que sempre me foi posto como verdade.
Me desculpe, por favor me desculpe, por todos esses pensamentos errados, por cada mal trato, por cada apelido, por cada dedo apontado, me desculpe por te deixar de lado, te criticar, te ferir, te envergonhar, me desculpe por tolher sua vida, por te tornar alguém insegura, por te fazer acreditar que era menos atraente, que não tinha capacidade de ter alguém que te amasse, e que nem você mesma se amava.
Eu sei não tem como me desculpar, mas tente, sei que não mereço, sei que nada disso é justificativa, sei também que não sou uma boa pessoa, sei que sempre tive poder de escolha, mas nunca usei de empatia com você e por isso não mereço a sua para comigo, sei que nada vai me redimir de ser alguém sem respeito e cruel, sem necessidade de ser, mas apenas me desculpe.
Esse texto não é para desculpar o magro, não é para validar o comportamento descriminatório, não é para fazer pessoas gordofobica se sentirem bem consigo mesmo, muito menos para explicar os motivos conscientes e inconscientes pelos quais se podem fazer maldades reproduzindo gordofobia. Esse texto é para te lembrar que tudo tem um começo e milhares de pessoas que apoiam esse tipo de comportamento, fazendo com que o agressor se julgue inocente.
Contato: gordaslivres@gmail.com
Milly Costa
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