Como a Sociedade Mata o Gordo - Médicos

Postagem original 17 de agosto de 2015

Debater gordofobia e sua estruturação na sociedade é ainda muito debochado, porque os demais movimentos sociais ainda desacreditam de sua existência, sempre que se debate em formas de lidar com a gordofobia questionam não só sua existência , quem "acredita" em sua existência desacredita de sua forma estrutural, como a que acontece no racismo, na homofobia e transfobia.
Para justificarem essa "não existência" usa-se duas frase que já viraram campeãs do ato de desrespeito com a dor do gordo.
"Ninguém morre por ser gordo."
"Não se mata ninguém porque ele é gordo."
Erro por desconsiderar a dor do gordo, erro por não conhecer a realidade do gordo antes de contesta-la, o gordo pode não ser assassinado como os gays, não dessa maneira escancara e deliberadamente apoiada pela sociedade, serão poucos casos que você verá, se é que você verá algo assim ser noticiado.
Porem se mata gordo de varias formas, bem silenciosas, bem perversas e bem assustadoras justamente por sua permissividade.
Uma gorda foi a uma clinica medica, fazer exames de rotina, na hora de colher o sangue, a cadeira direcionada para coleta, não cabia a paciente, a paciente questionou o fato da cadeira ser pequena, responderam para ela que a cadeira era padrão e que era ela quem não cabia, então solicitaram que a paciente fizesse o exame de pé, a paciente reclamou da situação, falou que aquilo era um absurdo e, que tinha o direito de ter um lugar para fazer o exame, assim como todas as outras pessoas ali presentes, na recusa dos responsáveis pela clinica de encontrarem uma cadeira adequada, a paciente resolveu tirar fotos e filmar a situação que ocorria com ela, os responsáveis chamaram os seguranças para a paciente, como se ela estivesse cometendo um crime, os seguranças tentaram tirar o celular de suas mãos, alegando que filmar era proibido.
Sabendo de seus direitos, a paciente protestou e tentaram conciliar o ocorrido oferecendo para ela uma cadeira plastica, dessas de bar, assim o exame foi feito, de qualquer jeito, o exame precisava ser feito e então foi feito da forma possível, não que a cadeira plastica coubesse a paciente, apenas fizeram o exame ali de pé.
Uma gorda foi maltratada em um hospital de emergência, ela passou mal precisou ir ao hospital, ficar internada e fazer exames, EXAMES EMERGENCIAIS, uma ultrassonografia foi solicitada, mas a maca destinada ao exame não cabia o corpo da paciente, a maca não tinha largura suficiente para ela, deitar de lado não serviria, deitada de frente a maca só conseguia comportar metade do corpo dela.
Ela era "grande demais" para a maca e, não a maca pequena demais para ela, isso foi o que foi dito, foi a explicação dada, o exame não tinha como ser feito ali naquela unidade.
Para a paciente foram passados remédios, mesmo sem o exame adequado, mandaram-na para casa, com a ordem de ir a uma outra unidade, onde existia um suporte para pacientes obesos como ela, o exame emergencial foi feito uma semana depois. Era o que tinha que ser feito, esperar por um lugar que a coubesse.
Uma gorda foi mal tratada em um consultório medico, ela precisava de uma cirurgia mamaria,  foi a procura de uma cirurgiã especialista em mama, na sala a medica à olhou de cima à baixo e disse, logico que seus "peitos" são grandes, logico que você tem dor na coluna, você já viu seu tamanho, você é gorda, você é muito gorda, você está horrível, está destruindo seu corpo, você não tem só o peito grande, já olhou sua largura, o tamanho dos seus braços, a largura da suas costas , procure uma nutricionista faça uma dieta e depois volte aqui. Em momento algum a paciente abriu a boca e disse o motivo de estar ali, a paciente não teve a chande de dizer o tipo de problema que tinha para necessitar da cirurgia, a cirurgia seria para corrigir uma doença chamada gigantismo mamário, que além de afetar o desenvolvimento das mamas, gera, dores cronicas na coluna, ossos dos ombros, e braços. A paciente saiu após alguns minutos de insulto, foi para casa e nunca mais voltou em nenhum outro medico do gênero.
Uma gorda foi maltratada por um medico, ela foi procurar um endocrinologista para tratar sua diabetes, no consultório o medico disse que diabetes era coisa de gordo, antes mesmo de saber de seu histórico, antes mesmo de ter feito exames para diagnosticar possíveis causas, a paciente explicou ao medico, que havia adquerido diabetes antes de engordar, por questões de DNA, sua família desenvolve esse problema independente de serem gordos ou magros e, com seu descuido na alimentação sua glicemia teve um pico, apos a paciente explicar todo quadro familiar e até citar como exemplo sua irmã, magra, que também tem diabetes, ele o medico, olhou para ela e disse: Desculpa de gordo, a paciente levantou-se foi embora e foi em buscar um outro profissional que pudesse trata-la.
Médicos são em sua maioria, filhos de médicos, netos de médicos, bisnetos de medico... E o que isso quer dizer, isso quer dizer, que tem muito mais coisa infiltrada nesse maltratar de pacientes do que se pode imaginar.
Não conhecemos nenhum histórico de pessoas ricas  privilegiadas, preocupadas com a coletividade, pessoas que foram criadas para ter nojo do coleguinha, criadas para se sentirem melhor que o coleguinha, pessoas que nasceram sabendo que teriam tudo o que queriam e quando queriam.
É difícil ter empatia quando se aprendeu que você é o centro do mundo e não parte dele.

Em nossa sociedade empatia não existe, não existe reprovação para quem destrata o gordo, para quem desumaniza o gordo, existe aplausos.
O que essas pessoas tem em mente,  é que se você "não cuida" da sua própria saúde e se permiti chegar nesse estado, de gordo, é porque você não merece ter sua saúde  tratada, o que se configuraria como negligencia medica, mas se você é gordo você já se "autonegligenciou". (essa é a ideia por trás da negligencia medica com o gordo)

Pacientes morrem: a paciente era feia, medico não gosta de gente feia paciente morre, a paciente era negra, medico não gosta de atender negros, paciente morre, o paciente era gay, medico não gosta de atender gays, paciente morre, a paciente entrou em trabalho de parto, medico mandou esperar porque era horário de almoço, dois pacientes morrem, o paciente era gordo, mas gordo é a praga da sociedade, gordo é epidemia mundial, gordo é maior causa de custos do hospital, gordo ficou gordo porque comeu muito até ficar diabético, hipertenso, com desgaste ósseo e alteração hormonal, o medico diz para o paciente que a culpa é toda dele que comeu demais, o paciente morre.

Médico é processado, médico paga advogado, médico é liberado, médico continua clinicando, vida que segue, mas o paciente, morre.
O que esse texto quer é: Chamar atenção do gordo para buscar os seus direitos, denunciem os maus tratos, denunciem a desumanização que sofrem, denunciem o abuso, o assedio, o desrespeito. Calar-se pode levar a morte.
Esse texto, quer mostrar para os não gordos, para os magros e para todos que dizem que o gordo não morre por ser gordo, que é assim que se mata gordo.
Milly Costa
#GordasLivres
Contato: gordaslivres@gmail.com
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